quarta-feira, 2 de março de 2011

CHARUTO E GASTRONOMIA

POR LUCIANO DALL'ALBA - RESTAURATEUR

A ligação do charuto com a alta gastronomia é notória. O número de gourmets e chefs de cozinha aficionados por charutos é grande. Não é à toa que os puros se fazem presentes nos encontros de várias das mais tradicionais confrarias gastronômicas do mundo.

Muitos restaurantes contam em sua equipe com um epicuresommelier, que é o profissional habilitado a orientar o cliente na harmonização entre o charuto e a bebida para a degustação. Considerando, naturalmente, que a bebida em um jantar está em sintonia com o(s) prato(s) da refeição, o que se busca, em suma, é uma harmonia completa entre a comida, a bebida em questão e o charuto a ser escolhido.

Uma refeição é harmônica quando os sabores, os ingredientes do prato, atuam de forma complementar na estimulação de nossas papilas gustativas e receptores olfativos, já que a percepção de sabor é uma ação conjunta de paladar e olfato.

Como em uma música, esses estímulos podem cantar no mesmo tom ou serem dissonantes. Há sabores que combinam; outros que não. Um prato equilibrado, harmônico, permite que cada ingrediente destaque e valorize o outro, sem sobreposição, proporcionando uma degustação perfeita. É uma sinfonia gustativa. No caminho inverso, a desarmonia faz com que certos sabores simplesmente desapareçam do conjunto ou percam completamente o brilho. E isso vale igualmente para a relação do vinho com o prato ou com o charuto. Eles precisam estar afinados.


Obviamente que nossa percepção gustativa muda conforme a ocasião - hora do dia, tipo de refeição, tempo de degustação. Um Ramón Allones gigantes será sempre um ótimo charuto, mas certamente suas notas de sabor serão melhor apreciadas ao fim de um bom jantar do que de forma casual, pela manhã, antes de uma partida de tênis - embora isso possa ser questão de gosto. Ainda assim, é importante considerar o contexto ao escolher o mais adequado para aquele momento.


Também em comum entre a mesa e o charuto está o ritual que envolve ambos.

Um banquete jamais será servido com pressa, no intervalo de um dia intenso de trabalho. É um evento que deve ser apreciado em cada um de seus momentos, da entrada à sobremesa ao gran finale - para os que apreciam - o charuto. Esse também envolve um ritual. Charutos não se fumam rapidamente no caminho de casa para o escritório. Degustar um charuto é um momento de extremo relaxamento e prazer, quer seja coroando uma grande refeição ou como parceiro de uma boa conversa entre amigos ao fim do dia. E deve ser degustado com calma para que seja devidamente apreciado.


Portanto, charuto e boa gastronomia são parceiros perfeitos e complementares para aqueles que apreciam os maiores prazeres que o paladar nos pode proporcionar!

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